sábado, 5 de dezembro de 2020

[PB86] Retórica retrocessiva contra a ciência progressista: antirracionalismo, maffesolismo e discursos obscurantistas decorrentes

XVII Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia

[23-27 Nov. 2020, UNIRIO, Rio de Janeiro, Anais, 15f.]
SUSTENTAMOS QUE OS ATUAIS MOVIMENTOS QUE QUESTIONAM OS VALORES TÉCNICOS E COGNITIVOS DA CIÊNCIA ENCONTRAM CORRESPONDENTES BASTANTE PRETÉRITOS - EPISÓDIOS QUE TAMBÉM JÁ TERIAM PROPOSTO OU QUE ELA É UM TIPO DE CONHECIMENTO "PREPOTENTE", OU QUE OUTRAS FORMAS DE CONHECIMENTO (QUE ELA SUPOSTAMENTE QUERERIA SEGREGAR) SÃO "MAIS NOBRES". ADEMAIS, AFIRMAMOS QUE OS MOVIMENTOS, CURIOSAMENTE, APESAR DE ENCERRAREM TIPOS DE COLETIVOS HETEROGÊNEOS (ALGUNS MUITO PRECÁRIOS INTELECTUALMENTE, OUTROS ATÉ COMPOSTOS POR AUTORES MUITO ERUDITOS), TÊM UM PROJETO EM COMUM: DENEGRIR OS FEITOS DA CIÊNCIA ... POR EXEMPLO, INSISTINDO EM QUE ELA, FATALMENTE, SERVIRIA A INTERESSES IDEOLÓGICOS E/OU A REGIMES POLÍTICOS. PROPOMOS QUE UMA VIA ÚTIL PARA DEMONSTRAR A FRAGILIDADE DE SUA RETÓRICA SERIA APLICAR O "PADRÃO DE ARGUMENTO" DE STEPHEN TOULMIN - PELO QUAL PODERÍAMOS DIZER: A AUSÊNCIA DE CERTOS COMPONENTES QUE SÃO CHAVE PARA DEFINIR BEM A ESTRUTURA LÓGICA DOS ARGUMENTOS (O "QUALIFIER" E O "REBUTTAL", EM ESPECIAL) FRAGILIZAM A CADEIA DE RACIOCÍNIO EM QUESTÃO, NÃO TENDO COMO BLINDA-LA A RETÓRICAS ARDILOSAMENTE PERSUASIVAS.
[extrato: “Personagem que dá nome ao adjetivo 'maffesolista', o sociólogo Michel Maffesoli está bem posicionado no círculo dos que viram na empresa de produção de textos engajados, uma via para inscrever seu nome na dianteira dos que pretendem ser citados por sua erudição lúcida e sensível. Na mira: deslizes da modernidade. O modo retórico de se posicionar: dizer-se minoritário na contracorrente. Cultuado além-França, é sagaz em mobilizar jovens corações e incutir em seus espíritos vulneráveis a doutrina heroica de uma caça incansável a um mostro imbatível. (p. 9)]
Link: https://www.17snhct.sbhc.org.br/download/download?ID_DOWNLOAD=132

domingo, 22 de março de 2020

[PB85] Teorias e modelos nas ciências humanas: o caso da geografia

Confins (Revue Franco-Brésilienne de Géographie)
[número 44, p. 1-15, Mar. 2020]
RESENHA DO LIVRO “THÉORIES ET MODÈLES EN SCIENCES HUMAINES: LE CAS DE LA GÉOGRAPHIE” (PARIS: ÉDITIONS MATÉRIOLOGIQUES, 2018. 643P.), DO PROFESSOR FRANCK VARENNE, DA UNIVERSIDADE DE ROUEN, FRANÇA. NESTA OBRA, O AUTOR – QUE É UM FILÓSOFO ESPECIALISTA EM EPISTEMOLOGIA E ESTUDIOSO DO USO DE MATEMÁTICAS PELAS CIÊNCIAS SOCIAIS – TRATA PRECISAMENTE DO CASO DE NOSSA DISCIPLINA. VARENNE DEMONSTRA AO LEITOR, CONVINCENTEMENTE, TRÊS PONTOS: (i) QUE A CHAMADA “REVOLUÇÃO QUANTITATIVA” NÃO FOI UM EMPREENDIMENTO MERAMENTE “POSITIVISTA”, NEM SE RESUMIU A UMA FAMÍLIA ESTANQUE DE POSICIONAMENTOS E DE TÉCNICAS (OU SEJA, DO EPISÓDIO, NA VERDADE, DESENCADEARAM-SE MÚLTIPLAS PERSPECTIVAS DE MODELAGEM, QUE SEGUIRAM PROGREDINDO); (ii) QUE A POUCA FAMILIARIDADE DOS GEÓGRAFOS COM RESPEITO À EVOLUÇÃO DA FILOSOFIA DA CIÊNCIA REDUNDOU EM CONFUSÕES INTERPRETATIVAS ENTRE OS COMPROMISSOS METODOLÓGICO, ONTOLÓGICO E EPISTEMOLÓGICO; E (iii) QUE DEVERÍAMOS NOTAR NA GEOGRAFIA A VANTAGEM INERENTE QUE ELA POSSUI DE PROPOR UM TRATAMENTO INTEGRADO DAS MODELAGENS E SUAS MATEMÁTICAS – O QUE NOS PARECE ALTAMENTE AUSPICIOSO ... EMBORA DEVA HAVER OBSTÁCULOS IMPOSTOS POR UMA GEOGRAFIA HUMANA AINDA MUITO REFRATÁRIA ÀS LINGUAGENS ABSTRATAS.
[“No Brasil, como a maioria dos autores de textos versando sobre história e teoria da Geografia é alinhada com vertentes sociais críticas, os leitores ficam reféns de publicações que, normalmente, omitem a amplitude de significados da chamada 'revolução teorética e quantitativa' em Geografia (RTQ). E daí ser comum ficarmos com a impressão de que se tratou de um empreendimento equivocado e breve. E que 'modelo', 'matemática', 'simulação'... isso tudo pode ser reduzido a uma mentalidade tipicamente 'quantitativista' – ou até mesmo 'positivista', na clássica e bastante infeliz abreviação. De hábito, então, os comentaristas que são pouco instruídos em história das ciências não se atentam aos detalhes inerentes à evolução paulatina das técnicas; e, sendo assim, sem conhecer os sucessivos giros ocorridos na direção de um refinamento, nem desconfiam que os recursos que antes eram realmente simplistas (num fisicalismo às vezes bem redutor) foram perdendo espaço para abordagens probabilistas, mais sensíveis à natureza dos comportamentos humanos em questão, sempre sujeita às circunstâncias.” (p. 3).]
LINK: https://journals.openedition.org/confins/26036#tocto1n3