Confins (Revue Franco-Brésilienne de Géographie)
[número 44, p. 1-15, Mar. 2020]
RESENHA DO LIVRO “THÉORIES ET MODÈLES EN SCIENCES HUMAINES: LE CAS DE LA GÉOGRAPHIE” (PARIS: ÉDITIONS MATÉRIOLOGIQUES, 2018. 643P.), DO PROFESSOR FRANCK VARENNE, DA UNIVERSIDADE DE ROUEN, FRANÇA. NESTA OBRA, O AUTOR – QUE É UM FILÓSOFO ESPECIALISTA EM EPISTEMOLOGIA E ESTUDIOSO DO USO DE MATEMÁTICAS PELAS CIÊNCIAS SOCIAIS – TRATA PRECISAMENTE DO CASO DE NOSSA DISCIPLINA. VARENNE DEMONSTRA AO LEITOR, CONVINCENTEMENTE, TRÊS PONTOS: (i) QUE A CHAMADA “REVOLUÇÃO QUANTITATIVA” NÃO FOI UM EMPREENDIMENTO MERAMENTE “POSITIVISTA”, NEM SE RESUMIU A UMA FAMÍLIA ESTANQUE DE POSICIONAMENTOS E DE TÉCNICAS (OU SEJA, DO EPISÓDIO, NA VERDADE, DESENCADEARAM-SE MÚLTIPLAS PERSPECTIVAS DE MODELAGEM, QUE SEGUIRAM PROGREDINDO); (ii) QUE A POUCA FAMILIARIDADE DOS GEÓGRAFOS COM RESPEITO À EVOLUÇÃO DA FILOSOFIA DA CIÊNCIA REDUNDOU EM CONFUSÕES INTERPRETATIVAS ENTRE OS COMPROMISSOS METODOLÓGICO, ONTOLÓGICO E EPISTEMOLÓGICO; E (iii) QUE DEVERÍAMOS NOTAR NA GEOGRAFIA A VANTAGEM INERENTE QUE ELA POSSUI DE PROPOR UM TRATAMENTO INTEGRADO DAS MODELAGENS E SUAS MATEMÁTICAS – O QUE NOS PARECE ALTAMENTE AUSPICIOSO ... EMBORA DEVA HAVER OBSTÁCULOS IMPOSTOS POR UMA GEOGRAFIA HUMANA AINDA MUITO REFRATÁRIA ÀS LINGUAGENS ABSTRATAS.
[“No Brasil, como a maioria dos autores de textos versando sobre história e teoria da Geografia é alinhada com vertentes sociais críticas, os leitores ficam reféns de publicações que, normalmente, omitem a amplitude de significados da chamada 'revolução teorética e quantitativa' em Geografia (RTQ). E daí ser comum ficarmos com a impressão de que se tratou de um empreendimento equivocado e breve. E que 'modelo', 'matemática', 'simulação'... isso tudo pode ser reduzido a uma mentalidade tipicamente 'quantitativista' – ou até mesmo 'positivista', na clássica e bastante infeliz abreviação. De hábito, então, os comentaristas que são pouco instruídos em história das ciências não se atentam aos detalhes inerentes à evolução paulatina das técnicas; e, sendo assim, sem conhecer os sucessivos giros ocorridos na direção de um refinamento, nem desconfiam que os recursos que antes eram realmente simplistas (num fisicalismo às vezes bem redutor) foram perdendo espaço para abordagens probabilistas, mais sensíveis à natureza dos comportamentos humanos em questão, sempre sujeita às circunstâncias.” (p. 3).]
LINK: https://journals.openedition.org/confins/26036#tocto1n3